Josefa tinha os olhos
vermelhos de chorar, durante toda a noite não dormiu! Já devia de estar
habituada aos maus tratos da filha às más palavras que sempre lhe ouviu.
Pela enésima vez leu a
mensagem que a filha lhe mandou pelo telemóvel:
- Só tens conversas de merda
no facebook com merda de gente como tu! Tás proibida de dizer a alguém que és
minha mãe! Tenho desgosto de ser tua filha! Para mim tu és lixo! -
- Porque será que a minha
única filha me odeia tanto? – Perguntava a si mesma pela milésima vez.
- Dei-lhe tudo o ela queria,
fiz-lhe todas as vontades desde criança, nunca mas nunca lhe faltou nada:
quando era criança, teve todos os brinquedos que que quis! Ao longo da vida
sempre lhe comprei roupas e calçado de marca como ela queria! Quis tirar a
carta de condução, eu paguei-lhe a carta, quis um carro, eu comprei-lhe um
carro ao gosto dela. Quis tirar uma licenciatura em psicologia e não teve
médias para ir para as universidades do estado, eu paguei-lhe o curso numa
universidade particular e sempre, sempre a tratar-me mal! Sabe Deus os
sacrifícios que eu fiz por ela!
- O pai dela deixou-me tinha
ela dez anos, ficou obrigado pelo tribunal a pagar uma bagatela para ajuda do
sustento da filha mas nunca deu nada! Fui eu que lhe dei tudo só com o esforço
do meu trabalho: vivia para ela!
Que mal fiz eu a Deus para ter tido uma vida tão cruel?
Que mal fiz eu a Deus para ter tido uma vida tão cruel?
Josefa esqueceu-se
momentaneamente da mensagem da filha e o seu pensamento voou para outros
tempos, dando início a uma retrospectiva da sua atribulada vida.
Quando tinha dezoito anos
estava perdidamente apaixonada por um rapaz que já conhecia há muito, ele, morava
a cerca de dois quilómetros da casa de seus pais. Ele também estava apaixonado
por ela. Tinha um bom emprego e a casa onde viviam, ele e a mãe, era deles,
podiam casar. As famílias de ambos acharam bem e o casamento realizou-se.
Na noite de núpcias ela dormiu
sozinha e nas outras noites seguintes também. O marido nunca lhe tocou, dormia
com a própria mãe! Ela era a criada lá de casa, tratada com rispidez pela mãe e
pelo filho. Tinha vergonha de falar; de contar o que se passava, os nervos
apossaram-se dela e deixou de comer, os seus pais viam-na emagrecer sem
compreenderem o porquê. Até que caiu doente, em estado de grande fraqueza. Os
seus pais aperceberam-se que havia qualquer coisa que não batia bem e
resolveram levarem-na para a casa deles para a trataram. Em casa dos pais,
pouco a pouco foi recuperando. Durante a recuperação ela contou aos pais tudo o
que se tinha passado, o que lhes provocou grande agitação.
Como eram muito católicos
pediram à igreja, a anulação do casamento. A anulação foi concedida mas, ela
teria que ser examinada por uma junta médica da igreja para provar que ainda
estava virgem. Lembrou-se como isso foi traumático para si: dois velhos médicos
qua a mandaram tirar as cuecas e deitar-se numa marquesa, mandaram-na levantar
as pernas e coloca-las nuns ferros em arco, uma de cada lado, ficando o seu
sexo completamente exposto para eles verificarem o seu hímen. Foi a maior
vergonha da sua vida!
Já tinha trinta e cinco anos
quando lhe apareceu o pai da filha! Andou de roda dela durante meses e parecia
muito romântico. Estava divorciado, a sua ex-mulher tinha-lhe posto os cornos.
Ele agora queria refazer a vida dele e ela, era a mulher que ele queria. Ele
dizia-lhe que tinha encontrado a mulher da vida dele: ela! Ela acreditou e com
ele casou!
Na noite de núpcias
estalou-lhe o verniz todo, quando frustrado de não lhe conseguir tirar a
virgindade na primeira vez que tiveram sexo e lhe disse de forma brutal,
desiludi-a profundamente:
- Virgem aos 35 anos? Se
nenhum gajo te fodeu ainda é porque não pretas para nada!
Ele sofria de ejaculação
precoce. Só á terceira vez é que conseguiu desvirgina-la, nas duas primeiras
vezes, vinha-se logo, mal lhe tocava, antes de penetra-la. Nunca tivera um
orgasmo com ele, apesar de ele ser insaciável! Queria ter sexo todos os dias e
às vezes mais que uma vez, mas, não queria saber dela! Saltava-lhe em cima,
dava duas ou três bombadas e caia para o lado a dormir. Servia-se dela como se
ela fosse uma puta e se ela não queria, forçava-a, magoando-a com brutalidade.
Tinha que se deitar somente com a camisa de dormir, sem cuecas. Se as não
tirasse, tirava-as ele deixando-a às vezes arranhada quando as puxava para lhas
tirar. Quando estava com o período ainda era pior!
Nos primeiros tempos do
casamento, quando ela ficou com o período, ele convenceu-a e ensinou-a a
fazer-lhe sexo oral, mas, mais uma vez ele não a soube respeitar! Ela quase que
vomitou as tripas… Nunca mais lhe fez porcaria nenhuma! Mas, quando ela estava
com o período ele queria sempre obriga-la!
Um dia encheu-se de coragem e
puxou de um facalhão bem afiado para ele. Foi remédio santo! Ele acobardou-se e
já não dormiu nessa noite em casa com medo que ela o matasse. Nunca mais voltou
a pôr os pés em casa.
Divorciaram-se, tinha ela
quarenta anos e nos 10 anos seguintes viveu para a filha que já nessa altura a
tratava com desdém!
Dez anos depois, com cinquenta anos, teve uma
proposta de casamento. Um funcionário dos correios, também com cinquenta anos e
solteirão, pediu-a em casamento. Ela precisava de alguém, de um braço amigo que
a amparasse, estava saturada da filha. Nunca tivera mão para filha! Nunca se
soube impor e fazer-se respeitar pela filha! A filha aos 15 anos só lhe faltava
bater.
Em vez de casar, decidiu
juntar-se com Joaquim. A presença de um homem estranho, no princípio, acalmou
os ânimos lá em casa.
Joaquim era atencioso, meigo
compreensivo e impotente! Quando a pediu em casamento ele lhe disse logo que
era impotente, mas, ela não ligou muito a esse facto, mas, agora com ele já a
viver lá em casa caiu na realidade: não tinha arranjado um marido mas sim um
irmão que dormia com ela. Uma vez tentou convencê-lo a ir ao médico, mas ele
acabou-lhe com as espectativas dizendo-lhe que era impotente crónico desde
sempre. Nunca tivera uma erecção já tinha consultado os melhores especialistas
e não havia nada a fazer.
Josefa teve que decidir se
ficava com Joaquim ou não! Decidiu abdicar da sua vida sexual e ficar com
Joaquim. Não teria sexo, mas, tinha alguém com bom feitio, que a apoiava.
A sua filha nos primeiros
tempos com Joaquim lá em casa amainou um pouco mas, ao fim de algum tempo, tudo
voltou aos tempos dos desaforos para a mãe.
Além de mais começou a andar quase nua pela
casa num acto de provocação a Joaquim. Josefa não se afligia, ela sabia que não
havia perigo com o Joaquim… Mas, Marta nem sonhava do problema de Joaquim e
continuava a insinuar-se para ele, apenas para afligir sua mãe, que não ligava
nada! Isso irritava-a terrivelmente.
Joaquim que não era nada parvo e fugia de
Marta como o diabo foge da cruz! Fazia os possíveis e impossíveis para nunca se
encontrar sozinho com Marta em casa.
Um dia Marta informa-os que tinha
um namorado e que iria viver com ele.
Foi um grande alívio a saída
de Marta lá de casa. Josefa estava verdadeiramente saturada da filha que a
martirizava de dia e de noite. Finalmente tinha descanso sem ter aquela voz
esganiçada a infernar-lhe os ouvidos.
Ao fim de dois anos quis
voltar para casa, a relação de Marta com o namorado tinha chegado ao fim, mas,
Josefa e Joaquim preferiram pagar o aluguer de uma casa para Marta do que tê-la
de regresso em casa.
Já viviam juntos há 10 anos quando
decidiram casarem-se. Eram amigos e ajudavam-se mutuamente. Josefa era gerente
de uma residencial de sucesso em Lisboa, há mais de 30 anos que geria aquele
estabelecimento hoteleiro. Os patões tinham absoluta confiança nela e ela fazia
o melhor que podia e sabia para manter a residencial no top. Porém tinha quase
setenta anos era altura de passar o testemunho para alguém mais novo e
reformar-se. Ao longo destes anos todos teve imensas oportunidades de ter
relacionamentos extraconjugais, mas nunca o fez porque nunca lhe apeteceu.
Joaquim também se reformou já perto doa
setenta, não quis reformar-se quando fez os 65 anos, mas, agora desejava!
Queria viajar pelo mundo com Josefa.
Porém, o destino por vezes é
cruel e Joaquim não pode concretizar o seu sonho de viajar pelo mundo porque teve um ataque cardíaco fulminante.
Josefa ficou outra vez
sozinha, mas, Joaquim deixou-lhe uma pequena fortuna e essa situação aguçou o
apetite de Marta que decidiu ser ela a gestora dos bens de sua mãe.
Josefa habituou a filha a
fazer-lhe todas as vontades, mas desta vez, disse-lhe que não!
Marta ficou furibunda e usa
toda a sua psicologia para demover Josefa mas, Josefa endureceu! Chora com o
desgosto da sua única filha ser assim para ela, fica sentida com as palavras cáusticas
da filha, mas, jamais em tempo algum cederá. Ela sabe que se o fizesse, acabaria
num rançoso asilo para velhos, despojada de todos os seus bens…