Pôr do Sol no Alentejo

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domingo, 30 de março de 2014

Destinos




Josefa tinha os olhos vermelhos de chorar, durante toda a noite não dormiu! Já devia de estar habituada aos maus tratos da filha às más palavras que sempre lhe ouviu.
Pela enésima vez leu a mensagem que a filha lhe mandou pelo telemóvel:
- Só tens conversas de merda no facebook com merda de gente como tu! Tás proibida de dizer a alguém que és minha mãe! Tenho desgosto de ser tua filha! Para mim tu és lixo! -
- Porque será que a minha única filha me odeia tanto? – Perguntava a si mesma pela milésima vez. 
- Dei-lhe tudo o ela queria, fiz-lhe todas as vontades desde criança, nunca mas nunca lhe faltou nada: quando era criança, teve todos os brinquedos que que quis! Ao longo da vida sempre lhe comprei roupas e calçado de marca como ela queria! Quis tirar a carta de condução, eu paguei-lhe a carta, quis um carro, eu comprei-lhe um carro ao gosto dela. Quis tirar uma licenciatura em psicologia e não teve médias para ir para as universidades do estado, eu paguei-lhe o curso numa universidade particular e sempre, sempre a tratar-me mal! Sabe Deus os sacrifícios que eu fiz por ela!
- O pai dela deixou-me tinha ela dez anos, ficou obrigado pelo tribunal a pagar uma bagatela para ajuda do sustento da filha mas nunca deu nada! Fui eu que lhe dei tudo só com o esforço do meu trabalho: vivia para ela!
Que mal fiz eu a Deus para ter tido uma vida tão cruel?
Josefa esqueceu-se momentaneamente da mensagem da filha e o seu pensamento voou para outros tempos, dando início a uma retrospectiva da sua atribulada vida.

Quando tinha dezoito anos estava perdidamente apaixonada por um rapaz que já conhecia há muito, ele, morava a cerca de dois quilómetros da casa de seus pais. Ele também estava apaixonado por ela. Tinha um bom emprego e a casa onde viviam, ele e a mãe, era deles, podiam casar. As famílias de ambos acharam bem e o casamento realizou-se.
Na noite de núpcias ela dormiu sozinha e nas outras noites seguintes também. O marido nunca lhe tocou, dormia com a própria mãe! Ela era a criada lá de casa, tratada com rispidez pela mãe e pelo filho. Tinha vergonha de falar; de contar o que se passava, os nervos apossaram-se dela e deixou de comer, os seus pais viam-na emagrecer sem compreenderem o porquê. Até que caiu doente, em estado de grande fraqueza. Os seus pais aperceberam-se que havia qualquer coisa que não batia bem e resolveram levarem-na para a casa deles para a trataram. Em casa dos pais, pouco a pouco foi recuperando. Durante a recuperação ela contou aos pais tudo o que se tinha passado, o que lhes provocou grande agitação.
Como eram muito católicos pediram à igreja, a anulação do casamento. A anulação foi concedida mas, ela teria que ser examinada por uma junta médica da igreja para provar que ainda estava virgem. Lembrou-se como isso foi traumático para si: dois velhos médicos qua a mandaram tirar as cuecas e deitar-se numa marquesa, mandaram-na levantar as pernas e coloca-las nuns ferros em arco, uma de cada lado, ficando o seu sexo completamente exposto para eles verificarem o seu hímen. Foi a maior vergonha da sua vida!
Já tinha trinta e cinco anos quando lhe apareceu o pai da filha! Andou de roda dela durante meses e parecia muito romântico. Estava divorciado, a sua ex-mulher tinha-lhe posto os cornos. Ele agora queria refazer a vida dele e ela, era a mulher que ele queria. Ele dizia-lhe que tinha encontrado a mulher da vida dele: ela! Ela acreditou e com ele casou!
Na noite de núpcias estalou-lhe o verniz todo, quando frustrado de não lhe conseguir tirar a virgindade na primeira vez que tiveram sexo e lhe disse de forma brutal, desiludi-a profundamente:
- Virgem aos 35 anos? Se nenhum gajo te fodeu ainda é porque não pretas para nada!
Ele sofria de ejaculação precoce. Só á terceira vez é que conseguiu desvirgina-la, nas duas primeiras vezes, vinha-se logo, mal lhe tocava, antes de penetra-la. Nunca tivera um orgasmo com ele, apesar de ele ser insaciável! Queria ter sexo todos os dias e às vezes mais que uma vez, mas, não queria saber dela! Saltava-lhe em cima, dava duas ou três bombadas e caia para o lado a dormir. Servia-se dela como se ela fosse uma puta e se ela não queria, forçava-a, magoando-a com brutalidade. Tinha que se deitar somente com a camisa de dormir, sem cuecas. Se as não tirasse, tirava-as ele deixando-a às vezes arranhada quando as puxava para lhas tirar. Quando estava com o período ainda era pior!
Nos primeiros tempos do casamento, quando ela ficou com o período, ele convenceu-a e ensinou-a a fazer-lhe sexo oral, mas, mais uma vez ele não a soube respeitar! Ela quase que vomitou as tripas… Nunca mais lhe fez porcaria nenhuma! Mas, quando ela estava com o período ele queria sempre obriga-la!
Um dia encheu-se de coragem e puxou de um facalhão bem afiado para ele. Foi remédio santo! Ele acobardou-se e já não dormiu nessa noite em casa com medo que ela o matasse. Nunca mais voltou a pôr os pés em casa.
Divorciaram-se, tinha ela quarenta anos e nos 10 anos seguintes viveu para a filha que já nessa altura a tratava com desdém!
 Dez anos depois, com cinquenta anos, teve uma proposta de casamento. Um funcionário dos correios, também com cinquenta anos e solteirão, pediu-a em casamento. Ela precisava de alguém, de um braço amigo que a amparasse, estava saturada da filha. Nunca tivera mão para filha! Nunca se soube impor e fazer-se respeitar pela filha! A filha aos 15 anos só lhe faltava bater.
Em vez de casar, decidiu juntar-se com Joaquim. A presença de um homem estranho, no princípio, acalmou os ânimos lá em casa.
Joaquim era atencioso, meigo compreensivo e impotente! Quando a pediu em casamento ele lhe disse logo que era impotente, mas, ela não ligou muito a esse facto, mas, agora com ele já a viver lá em casa caiu na realidade: não tinha arranjado um marido mas sim um irmão que dormia com ela. Uma vez tentou convencê-lo a ir ao médico, mas ele acabou-lhe com as espectativas dizendo-lhe que era impotente crónico desde sempre. Nunca tivera uma erecção já tinha consultado os melhores especialistas e não havia nada a fazer.
Josefa teve que decidir se ficava com Joaquim ou não! Decidiu abdicar da sua vida sexual e ficar com Joaquim. Não teria sexo, mas, tinha alguém com bom feitio, que a apoiava.
A sua filha nos primeiros tempos com Joaquim lá em casa amainou um pouco mas, ao fim de algum tempo, tudo voltou aos tempos dos desaforos para a mãe.
   Além de mais começou a andar quase nua pela casa num acto de provocação a Joaquim. Josefa não se afligia, ela sabia que não havia perigo com o Joaquim… Mas, Marta nem sonhava do problema de Joaquim e continuava a insinuar-se para ele, apenas para afligir sua mãe, que não ligava nada! Isso irritava-a terrivelmente.
 Joaquim que não era nada parvo e fugia de Marta como o diabo foge da cruz! Fazia os possíveis e impossíveis para nunca se encontrar sozinho com Marta em casa.
Um dia Marta informa-os que tinha um namorado e que iria viver com ele.
Foi um grande alívio a saída de Marta lá de casa. Josefa estava verdadeiramente saturada da filha que a martirizava de dia e de noite. Finalmente tinha descanso sem ter aquela voz esganiçada a infernar-lhe os ouvidos.
Ao fim de dois anos quis voltar para casa, a relação de Marta com o namorado tinha chegado ao fim, mas, Josefa e Joaquim preferiram pagar o aluguer de uma casa para Marta do que tê-la de regresso em casa.
Já viviam juntos há 10 anos quando decidiram casarem-se. Eram amigos e ajudavam-se mutuamente. Josefa era gerente de uma residencial de sucesso em Lisboa, há mais de 30 anos que geria aquele estabelecimento hoteleiro. Os patões tinham absoluta confiança nela e ela fazia o melhor que podia e sabia para manter a residencial no top. Porém tinha quase setenta anos era altura de passar o testemunho para alguém mais novo e reformar-se. Ao longo destes anos todos teve imensas oportunidades de ter relacionamentos extraconjugais, mas nunca o fez porque nunca lhe apeteceu.
 Joaquim também se reformou já perto doa setenta, não quis reformar-se quando fez os 65 anos, mas, agora desejava! Queria viajar pelo mundo com Josefa.
Porém, o destino por vezes é cruel e Joaquim não pode concretizar o seu sonho de viajar pelo mundo  porque teve um ataque cardíaco fulminante.
Josefa ficou outra vez sozinha, mas, Joaquim deixou-lhe uma pequena fortuna e essa situação aguçou o apetite de Marta que decidiu ser ela a gestora dos bens de sua mãe.
Josefa habituou a filha a fazer-lhe todas as vontades, mas desta vez, disse-lhe que não!
Marta ficou furibunda e usa toda a sua psicologia para demover Josefa mas, Josefa endureceu! Chora com o desgosto da sua única filha ser assim para ela, fica sentida com as palavras cáusticas da filha, mas, jamais em tempo algum cederá. Ela sabe que se o fizesse, acabaria num rançoso asilo para velhos, despojada de todos os seus bens…    

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