pintura de Malangatana
Valente
Disse adeus ao companheiro de viagem
Tínhamos estado dezoito horas juntos…
A conversa agradável
A fraternidade da viagem.
Tive pena de sair do comboio, de o deixar.
Amigo casual cujo nome nunca soube.
Meus olhos, senti-os, marejaram-se de lágrimas...
Toda despedida é uma morte...
Sim toda despedida é uma morte.
Nós no comboio a que chamamos a vida
Somos todos casuais uns para os outros,
E temos todos pena quando por fim desembarcamos.
Tudo que é humano me comove porque sou homem.
Tudo me comove porque tenho,
Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,
Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira.
A criada que saiu com pena
A chorar de saudade
Da casa onde a não tratavam muito bem...
Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo.
Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração.
E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa.
Os poemas de Fernando Pessoa deixam-me sempre a pensar e
este não foge à regra, existiram muito poucos pessoas no mundo como Fernando
Pessoa, que em tão poucas palavras me transmitam tanto! É como se o mundo
inteiro coubesse dentro dos seus poemas.
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