Pôr do Sol no Alentejo

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Memórias da rádio



A minha primeira memória da rádio é por volta dos anos sessenta.
Eu tinha um tio que estava a cumprir serviço militar em Angola. Lembro-me que então a uma determinada hora, por volta do anoitecer, juntava-se a família toda: os meus avós, os meus pais e as minhas tias, num silencio profundo, a escutar um programa que dava todos os dia aquela hora. Não sei bem qual era o nome do programa, só sei que eram notícias relacionadas com os militares que cumpriam serviço militar no ultramar.
Ficou-me bem na memória porque cada vez que eu abria a boca para dizer o que quer que fosse, toda a gente me mandava calar, com ar ameaçador. O remédio era ficar ali muito sossegado, a morrer de tédio enquanto um tipo falava, falava, e o pessoal da família ficavam ali a ouvi-lo religiosamente.
Passados já tantos anos, sobre esse tempo, leva-me agora a pensar e a tecer algumas reflexões sobre este assunto.
A rádio que os meus familiares escutavam com tanta atenção, era a Emissora Nacional, a rádio do regime por excelência, logicamente que o que se dizia nessa estação de rádio tinha que estar de acordo com a filosofia do regime que na altura governava Portugal. Por conseguinte, a pessoa que relatava o dia-a-dia dos militares que prestavam serviço nos antigos territórios ultramarinos portugueses só dizia aquilo que agradava ao regime.
Claro que também tenho outras memórias da rádio, aliás tenho muitas, de quando eu era pequeno, além da que já citei, lembro-me também de um programa que era muito apreciado em casa dos meus avós que se chamava: Fados e Guitarradas.

Também me lembro, que os ouvintes elegiam o rei e a rainha da rádio. As minhas tias eram grandes entusiastas desse programa, mas não sei se eram participantes activas, o que sei é que elas ficavam muito satisfeitas quando ganhava o António Calvário, ou a Madalena Iglésias.
Também me lembro muito bem de irmos passear ao domingo, e o meu pai e também o meu avô, levarem sempre o rádio pequeno para ouvirem o relato de futebol.
Na altura eu já era um grande adepto do Sporting, tal como o meu pai e o meu avô, e quando o Sporting marcava eu festejava efusivamente, mas na verdade eu festejava porque ouvia gritar golo, na realidade eu não ligava nada ao relato, nem sequer percebia o que o Artur Agostinho, o Álvaro dos Santos e outros diziam, eu gostava era de os ouvir a relatar. Para mim aquilo soava-me como uma música. Uns homens que falavam tão depressa que pareciam que estavam a cantar. Era essa a sensação que eu tinha.
Numa época já mais recente, já eu trabalhava na Sorefame como desenhador de metalomecânica e, num período em que havia muito trabalho, a nossa companhia diária era a rádio, enquanto trabalhávamos.
Nos jantávamos lá na empresa, das oito às oito e trinta, depois ligávamos o rádio e ouvíamos os discos pedidos pelos ouvintes. Era o programa quando o telefone toca, onde o ouvinte tinha que dizer uma frase publicitária, da marca que patrocinava o programa, o apresentador do programa era o Sr. Matos Maia de seguida ficávamos a ouvir um programa de música que eu apreciava muito, não tenho bem a certeza do nome do programa, mas parece-me que se chamava Oceano Pacifico, tinha umas músicas espectaculares.

 
Também há uns dez anos atrás, morava eu na altura em Arrentela, numa ocasião estava eu no café e comentei um assunto relacionado com a proliferação de Hipermercados, no nosso país com um senhor que estava ao meu lado.
Ele esteve a ouvir-me com alguma atenção e depois disse-me se eu não me importava que ele gravasse a minha opinião porque ele tinha um programa de rádio, onde apresentava a opinião dos ouvintes.
Claro que eu não me importei. Lá repeti tudo outra vez, com um microfone à frente, que me deixou um pouco nervoso, e me fez gaguejar algumas vezes.
A partir daí fiquei a conhecer o Sr. Nelson Fernando e a esposa a Sra. Mariel Caetano, donos da Rádio Baía, uma das duas estações de rádio local do concelho do Seixal.
Visitei algumas vezes os estúdios da Rádio Baía, e confesso que a primeira vez que lá entrei fiquei deveras desiludido, estava á espera de algo sofisticado, e depara-me um apartamento normal em que as divisões, foram transformadas.
Havia dois estúdios pequeníssimos completamente isolados, onde havia somente dois lugares, um para o comunicador, e o outro lugar provavelmente seria talvez para algum convidado. Em frente do apresentador um leitor de CDs, e uma prateleira cheia de CDs.
As outras divisões, seriam uma sala de estar para receber convidados, e alguns gabinetes ou escritórios.
Actualmente a minha relação com a rádio é muito diferente. Começo de manhã cedo às sete, a ouvir a Antena dois, que é rádio de música clássica, pois o meu relógio despertador está sintonizado nessa estação de rádio. Mas pouco ouço porque me levanto logo e desligo a rádio.
Depois ouço um pouco mais de rádio no carro a caminho do trabalho, aliás ouço sempre rádio quando ponho o carro a trabalhar porque quando ligo um o outro também se liga.
Actualmente estas são as únicas situações em que ouço rádio. Não sei bem porquê mas actualmente não tenho grande paciência para ouvir conversas na rádio. A Única estação de rádio que ainda consigo ouvir é a Antena dois. Nas outras estações há muita conversa. Os fóruns com a participação dos ouvintes esses são extremamente lamuriosos, com as pessoas só a queixarem-se, a lamentarem-se, a dizerem mal de tudo e de todos.
Não sei se foi a rádio que mudou, ou se calhar fui eu que mudei, mas o mais provável foi termos mudado os dois.
Contudo apesar de eu actualmente não ser grade ouvinte de rádio, não quero dizer que eu não pense que a rádio não seja muito importante.
Nas raras ocasiões que ouço rádio, por exemplo a Rádio Baía, (a tal que eu conheço os donos) em que se usa muito o contacto directo com os ouvintes, fico impressionado com o fluxo contínuo de pessoas a ligarem para lá, e a participarem nos passatempos que a rádio organiza.
Não tenho dúvida nenhuma que a rádio é uma boa companhia, para muita gente. Não me refiro á rádio que transmite somente música, que as pessoas ouvem enquanto conduzem, ou que é transmitida nas lojas, para produzir som ambiente. Refiro-me também á rádio que fala com os ouvintes e lhes dá oportunidade de darem opinião, sobre vários temas, e que apesar de pessoalmente eu não ser apreciador, desse género de programas, as vezes ouço até a minha paciência aguentar, e posso verificar o grande nível de participação e do agrado que as pessoas afirmam ter por esse tipo de programas.

   
Isso leva-me a concluir que a rádio continua a ser uma grande companhia para muita gente. E que devido à grande quantidade de estações de rádio, umas regionais ou locais outras com amplitude nacional, conseguem através de programações variadas manter um publico ouvinte fiel.
14-05-2010

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