Daniel era filho de pai incógnito e a mãe abandonou-o recém-nascido. Viveu toda a sua vida no orfanato. Lá aprendeu a ler e a escrever e lá aprendeu também um ofício. É mecânico de automóveis.

Manuela viveu com seus pais e irmãos numa casa minúscula. Era norma lá de casa começar-se a trabalhar assim que se completava a 4º classe, mas ela como era muito magra e alta e com aspecto frágil, ninguém lhe deu emprego. Apenas seu tio decidiu torna-la sua ajudante. Levantava-se de madrugada para ir para o mercado abastecedor do peixe e depois iam fornece-lo aos vendedores das praças. Estava farta de apanhar frio e de cheirar a peixe, um dia conseguiu arranjar emprego num supermercado e vida tornou-se-lhe mais fácil.

Com 22 anos, Manuela atormentava-se com medo de ficar para tia, até que num dia conheceu Daniel. Ele também tinha 22 anos, era alto e entroncado. Manuela ficou apaixonada, foi amor á primeira vista. Ele não estava habituado a conviver com raparigas, as únicas que conhecia eram as putas do Intendente ou do Bairro Alto e mesmo com essas, ele pouco falava, pagava preço pedido e depois ia à sua vida.

Manuela apesar de tímida foi quem estabeleceu conversa, foi ela que lhe propôs que namorassem. Ele achava-a vulgar, mas apesar de ser magricela, tinha um traseiro saliente que muito o atraiu.

Um casamento rápido a todos convinha. Aos pais: era uma a menos lá em casa, aos irmãos: significava mais espaço e para ela, era sair daquele ambiente de que estava farta.

Alugaram uma casa, idêntica à dos pais e na mesma rua. Casaram e do casamento nasceram dois filhos espaçados por 3 anos. Daniel tem tido sucesso na sua profissão de mecânico de automóveis e actualmente trabalha por conta própria. Os filhos já estão crescidos, o mais velho já está na universidade e o mais novo também tem boas notas na escola secundária. Já há muito que mudaram de casa e tudo parecia correr bem.

Parecia, dizia eu, até ao aparecimento de Bruna: uma boazona que deu a volta à cabeça de Daniel. Bruna teve um problema no motor do carro e foi à oficina de Daniel. Como se uma martelada levasse na cabeça, Daniel ficou atordoado! Jamais uma mulher lhe fez tanto impacto! Ficou perdidamente apaixonado. Ela aproveitou logo, ele era o dono de uma oficina de sucesso e isso cheirava a dinheiro.

Daniel, fez vida dupla durante algum tempo. Tinha as duas, porém eram cada vez mais as noites que ele não aparecia em casa. Dizia à mulher, que tinha muito serviço.

Manuela observava atónita o marido: a comprar roupas novas, a perfumar-se, a cuidar da imagem. Coisas que ele nunca fizera antes e achava tudo aquilo muito estranho.

Um dia descobriu a traição do marido e amargurada expulsou-o de casa. Daniel fez as malas e foi para a casa da outra.

Manuela está arrependida de ter expulsado o marido e chora pelos cantos! Conta as suas desventuras às amigas que a vão aconselhando de acordo com as ideias delas, mas nada faz aliviar Manuela, da sua dor, da sua revolta …

Não faço julgamentos! Quem sou eu para criticar seja quem for, mas isso não invalida que não fique a pensar nas contingências da vida.