https://www.youtube.com/watch?v=ujQoUEdXr_8
Que a força do medo que tenho
Não me
impeça de ver o que anseio
Que a
morte de tudo em que acredito
Não me
tape os ouvidos e a boca
Porque
metade de mim é o que eu grito
A outra
metade é silêncio
Que
a música que ouço ao longe
Seja
linda ainda que tristeza
Que
a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo
que distante
Pois
metade de mim é partida
A
outra metade é saudade
Que
as palavras que falo
Não
sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas
respeitadas como a única coisa
Que
resta a um homem inundado de sentimentos
Pois
metade de mim é o que ouço
A
outra metade é o que calo
Que
a minha vontade de ir embora
Se
transforme na calma e na paz que mereço
Que
a tensão que me corrói por dentro
Seja
um dia recompensada
Porque
metade de mim é o que penso
A
outra metade um vulcão
Que
o medo da solidão se afaste
E
o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que
o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que
me lembro ter dado na infância
Pois
metade de mim é a lembrança do que fui
A
outra metade não sei
Que
não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra
me fazer aquietar o espírito
E
que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois
metade de mim é abrigo
A
outra metade é cansaço
Que
a arte me aponte uma resposta
Mesmo
que ela mesma não saiba
E
que ninguém a tente complicar
Pois
é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois
metade de mim é plateia
A
outra metade é canção
Que
a minha loucura seja perdoada
Pois
metade de mim é amor
E
a outra metade também
Osvaldo Montenegro
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